Mascara de Mentiras
Era um mentiroso
profissional. Enganava a todos a sua volta e às vezes mentia tanto que chegava
a enganar a própria sombra. Era sozinho, se confinava em um mundo só dele. Dele
e de suas mentiras. Tinha a capacidade de manipular as pessoas como marionetes
presas em teias de ilusões.
Não tinha uma aparência sedutora, a não ser por seus olhos verdes e cristalinos e o porte alto e esguio. Sua máscara, porém, era atraente e convidativa. E era tão profunda que ninguém podia ver além dela. Um dia, conheceu uma moça. Era em toda a sua plenitude, bela e doce. Seus grandes olhos azuis transmitiam calma e tranqüilidade. Carregava em seus lábios um sorriso meio aristocrático, meio travesso. Mas o mais impressionante era o incrível dom que ela possuía de ver a verdadeira face do mentiroso.
Conseguia enxergar além da máscara tão bem trabalhada. Impressionante também era como aquela estranha o conhecia. Podia ver o brilho flácido da verdade em seus olhos. O conhecia mais que sua própria mãe, mas nunca dizia como. Não demorou muito, e eles começaram a namorar. O moço saia toda hora para exibir a namorada, mas as pessoas pareciam nunca notá-la. Um dia, porém, a garota se enraiveceu com o mentiroso e em fúria, ateou fogo em sua casa.
Enquanto as chamas cresciam e consumiam tudo pela frente sem descanso, o rapaz conseguiu fugir. Minutos depois, a vila se encheu de bombeiros e carros de polícia, as sirenes soando ensurdecedoras. Seguiu-se uma busca pela moça, mas ela havia desaparecido. Não havia registros de seu nome em lugar nenhum e ninguém além do mentiroso nunca a vira. Era como se ela simplesmente não existisse.
Durante as investigações, alguns vizinhos disseram que o próprio moço havia entrado em casa sozinho naquela noite e causado todo o estrago. A moça provavelmente era apenas mais uma de suas mentiras.
A pedido dos pais, que o achavam muito estranho ultimamente, foi submetido a exames clínicos e psicológicos. Misturou tanta mentira, falou tanta coisa sobre coisa que não fazia sentido algum, que no final foi diagnosticado como louco. A doença já estava em um estado avançado. Com o tempo, perdeu toda a memória.
Só conseguia se lembrar dos milhões de mentiras que outrora dissera todas embaralhadas em sua mente. Nada mais. Acabou por ser internado em um manicômio e a passar seus últimos dias numa camisa de força. Até os pais tinham medo dele agora. Dia vai, dia vem, e ele acabou por ter uma morte trágica, inexplicável. Rumores se espalharam dizendo causas mais diversas para o acontecido: desde suicídio até assassinato. Mas uma coisa era certa; morreu louco e confuso, preso, enfim, em sua própria teia de ilusões...
Autor: Mayara Cotrin
08 de abril de 2016
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