A carta

Fred! Prazer... Este sou eu... E o que em breve vos narrarei é a história mais inimaginável e estranha que podes ler... Nasci em 1985, filho único de uma família de classe média. Já podes ver todo o futuro promissor que meus pais dedicaram a mim, ou pensaram dedicar. Fui criado com muito zelo, e, até mesmo uma blandícia extremada. Sou moreno, tenho 1,75m, Cabelos negros e olhos verdes... Sim, se um dia meus amigos e parentes tiverem o privilégio ou a maldição de ler esta carta, com certeza, poderão confirmar minha fútil e efêmera beleza; e se um dia, mesmo que por foto, você também puder conhecer-me, acho que, chegará à mesma conclusão. O Estranho que no início eu fazia questão de refutar esta idéia, mas com tantos parentes e muitas mulheres confirmando esta tese, terminei fazendo dela minha teoria de vida; hoje sou até chamado de boçal, metido e folgado. Enfim... Terminei aceitando e pior que deu certo, é como diria Descartes: “Penso, logo existo (Cogito, ergo sum)”, na vida tudo o que temos e vivemos é fruto do que nos mesmo escolhemos e se algo está errado, basta que não aceitemos e lutemos para mudar. Bem, mesmo seguindo este princípio rudimentar, vejo que não faz muito sentido para mim, neste momento, lutar. Também, se este fosse um princípio único, talvez muitas pessoas nem existam, já que elas não pensam em nada... Há momentos em nossas vidas que uma derrota se transforma em nossa maior vitória e o medo serve apenas como referência ou mera lembrança que sentíamos por não termos, talvez, o privilégio de realizarmos todos os nossos planos. Mas chega de filosofia... Quero dividir com vocês um pouco da minha vida, talvez esta seja a única oportunidade que terás de ler o que penso. Sempre fui um cara muito estimado por todos, desde o mais próximo amigo até o parente mais distante; todos me admiravam por minha eloqüência, simpatia e simplicidade. Meus amigos me adoravam pela facilidade e familiaridade que eu tinha com a arte da sedução; todos ficavam fascinados e até me exaltavam, mas mal sabiam eles que nada era de tão impressionante, na noite eu era um mero pedante que as mulheres simplesmente levavam a sério ou fingiam levar, acho que o máximo que elas queriam era atenção e eu era único que me dispunha a dar. Nunca tive medo de chegar nas mulheres, já fui recusado por muitas, confesso, mas sempre a lei da probabilidade prevaleceu, pois sempre dava em cima de várias, não ficava perdendo tempo com quem não me dava atenção. Nunca fiquei uma só noite sem companhia, nunca precisei trabalhar para ter dinheiro em minhas noitadas, nem era pressionado a isto. Sempre tive tudo o que quis, acho que por isso que desisti, não estou acostumado com as derrotas da vida, a vida é uma mãe muito rígida. Em 2009 conheci Bruna. A menina mais especial dentre todas que conheci. Ela tinha um jeito de ser e agir, completamente diferente de tudo aquilo que um dia conheci. Namoramos por um curto tempo, foram os melhores meses da minha vida. Com ela sempre tive a certeza que valeria a pena dividir tudo o que tinha em vida. Mas ela exigia muito de mim, não queria me aceitar como sou; sempre deixava claro que seu maior desejo era me ver mudar; queria me ver responsável e mais dedicado a um futuro produtivo... Quem ela pensava que era? Nem minha mãe exigia as responsabilidades que ela me cobrava. Houve uma noitada maluca, comecei a beber desde cinco horas da tarde, terminei me metendo em uma briga e fui preso, para mim aquela não foi a primeira vez, mas para Bruna aquela foi a gota que faltava pra transbordar o copo. Ela me deixou... Cheguei ao ano de 2009 cheio de mim. Fiquei com várias mulheres, voltei a ser o rei nas noitadas, meus colegas me viam como um mito: Como ele superou tão rápido?... Mas não esqueci, apenas deles eu tentava esconder esta fraqueza. Falava mal dela aos quatro cantos, deixava bem claro a todos que dela sequer lembrava ou me importava, mas sentia uma dor estranha, uma dor que consumia o meu ser. Nunca mais tive prazer com mulher alguma, o beijo já não tinha mais sabor, o sexo tornou uma simples tradição masculina e o prazer apenas resultado de uma ejaculação automática. Um mês atrás tentei procura-la a fim de por um ponto final ao meu sofrimento, mas terminei descobrindo que ela estava com o casamento marcado... Será que ela ainda lembrava de mim? Eu... Eu vivo ela... Meus pensamentos são meros sistemas assimilativos ao rosto e a forma dela de viver. A Dor que sinto não me deixa viver. Não quero mais sobreviver. Choro sem medo de secar meus olhos; sinto as lágrimas descerem com certo alivio, como se elas me livrassem de um peso, de um fardo... Mas sinto que só mesmo a ato de sangra deixar-me-á completamente livre desta dor. Vejo que o simples ato de aceitar a muito já me matou. Algumas horas atrás, enquanto todos dormiam, amarrei uma corda no teto do meu quarto. Agora olho para este laço amaldiçoado, sabendo que logo toda a dor ira passar... Às vezes tenho medo, outras sinto uma sádica vontade de sentir meu pescoço envolvido por este mortal abraço. Não sei... Só lamento o sofrimento dos meus pais, que tanto investiram neste incapaz. Saiba que daqui a alguns minutos não mais irei existir e tudo o que aqui narrei me fez ter certeza do que quero. Você pode morrer ao acaso, mas eu escolhi... Desisti de ser um covarde, sempre agi assim. Não preciso de coragem para me matar, mas sim para viver. Não tenho vergonha de nada do que escrevi anteriormente, agora entendo o real sentido. Antes tinha vergonha da minha dor (medo); agora tenho a coragem para enfrentá-la. Se não tive medo de dar fim a minha própria vida, jamais terei de aceitar e superar minhas derrotas; quero viver a vida com excelência. Deus me deu a vida, agora sei que jamais irei tirá-la, apenas iria desistir da única dificuldade que enfrentei. Acredito que é por isso que na vida há certas dificuldades, pois assim... Quando nos a superarmos, teremos certeza de que tudo valeu a pena e sem dúvida teremos esta provação como vitória. A Derrota jamais será exemplo de vitória, mas sim um modelo de algo que jamais devemos cometer novamente. Não podemos ficar na vida fazendo rodeios, dando desculpas, temos que mostrar que temos a capacidade para enfrentarmos e sobrepujarmos essas barreiras. Não ficarei com Bruna, mas quero que ela seja feliz, assim como eu sonho em ser. Hoje sei o que é amar. Não quero ser somente admirado ou servir de modelo masculino, quero ser amado e respeitado, não pelo que sou na noite, mas pelo homem que sou na vida. Hoje sei que o que vale não é somente a lei da probabilidade, mas a da responsabilidade; preciso mostrar respeito e comprometimento para com a mulher que eu amar. Na primeira vez que Bruna faltou com responsabilidade comigo foi muito doloroso, mas ela só se permitiu, após um ato irresponsável meu. Jamais farei a ninguém o que não quero para mim. Nunca mais tentarei me matar, pois minha vida não depende só de mim. Muitos acreditaram em mim: Meu Pai, meus amigos... Bruna. Para com eles tenho uma responsabilidade, que é a de existir e fazer a coisa certa; a vida não depende só de mim, ainda há muitas pessoas que futuramente cruzarão meu caminho e tenho certeza que me conhecer será mais que necessário. Não tenho compromisso só com Bruna, meu destino se cruza ao de outras pessoas, sou responsável por quem ainda nem conheci... Parece um pensamento meio complexo e até ubíquo. Hoje eu não me matei, mas nasci novamente, agora sei quem sou. Não mais fingirei ser o que querem que eu seja, serei real, mesmo que a muitos decepcione após esta carta. Quero que saibam que tenho orgulho e estou feliz em aceitar e melhorar quem eu realmente sou.

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